segunda-feira, 13 de março de 2023

ninguém

o que foi que deu tão errado que no final das contas é sempre tão superficial?
é sempre tudo tão sozinho?

nunca tem ninguém do outro lado e eu me sinto tão sozinha
e dos milhares que estão ali nunca tem ninguem
ninguem nem nunca está aqui
é só só, só solidão

pudera e quisera que houvesse ao menos alguem,
mas sempre respiro só, e no vai vem das marés
nunca tem ninguém

abracei demais e não posso mais culpar alguém
o erro é meu, e o meu é meu haver.
já não derrama, só rasga.
dói a cabeça e nunca passa
estou nos confins de mim
e mesmo assim, não me acabo em mim
há sempre uma pendência, sobras do que faltou
aprendi a ser incompleta
e nunca inteira sou

queria abrir as portas
mas as janelas estão emperradas
tenho medo da culpa
mas ela já é minha morada.
queria me dividir em dois, queria me dividir em mil
queria que em alegorias,
não me sentisse vil

mas nada é tudo que sou
e isso eu já entendi
mas ser não inteira
ainda me faz por um triz

queria a cara e o peito
pra decidir de frente
mas as minhas costas rasgam
e arde o aguardente

mil perdões, eu
eu pra você nem sou metade
mas enquanto a cabeça cresce
ainda hei de te devolver a alma

domingo, 24 de outubro de 2021

quando fomos antes/acabou

 quando fomos antes, eu teria dado a vida

amor de louca, amor apaixonado

amor que quer demais

amor desvairado 

amor com medo


quando fomos depois

eu teria te dado vidas

teria feito filhos, uma casa, amores mais sóbrios


e quando não fomos nem isso

eu chorei, fui bêbada

vomitei meus anseios, chorei minhas mágoas 

expeli as frustrações 

e percebi que era de fato com você que queria meus filhos e minha vida 

pronunciei meus desejos mais sagrados

foi quando soube que não era por nós, 

mas por tudo.

esmoreci

 perdi

  desisti

e prometi não sentar mais no chão do banheiro da estação 

implorando a deus por alguém que não pode partilhar os mesmos sonhos que os meus


escrevi pra você no meu imaginário mil formas de dizer adeus

pedindo a mim mesma a compreensão de que era um adeus


e quando fomos ontem 

apesar de tudo 

eu ainda te quis (quero)

por perto

e depois de tudo, acho que entendi

os fragmentos das despedidas que repeti ao longo dos anos

  eu acho que acabou 

mas ainda tenho estilhaços do que a gente foi e do que seríamos

unindo-se a serem despejados, substituídos

e ainda te quero

 não como antes

mas não posso me desprender de você 

te quero amiga, te quero 

te quero como a força do primeiro amor

mesmo quando ele, enfim, acabou.

meu coração vai explodir

 meu coração vai explodir

e não sei se é porque não consigo me ater ao céu claro que quero que me cegue

ou a flor vermelha que morrerá em um tempo menor do que eu 

meu coração vai explodir 

e não sei se é porque preciso de novo de sertralina 

ou de crise humana grande o suficiente pra me ocupar com desesperos maiores do que essa barreira entre quem sou e tudo que posso ser 

cabeça que não sente por tudo sentir, peito que esmaga o calor de dentro pra fora

pedi por tudo e não sei o que tudo queria dizer 

mas imagino que algo deva ser

isso é a solidão de novo? 

acredito em deus ou não? 

é um novo tipo de delírio

mas evoluiu de um anterior

espero que não me mate

espero que não me canse

espero que não me pare

não de novo

de novo, nunca mais. 

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Camões

Você é uma dessas pessoas que me confundem por anos
Me chuta e me abraça
E me faz te odiar um pouquinho demais
    quando faz qualquer uma dessas coisas
E você fala de Camões como se fosse argumento
  suficiente pra me convencer de que é exatamente isso
  que sinto quando estou perto de você
De que é disso que é feito o amor
Você só aceita que sou teimosa demais pra dar o braço a torcer
  de que me sinto tão apaixonada tendo você assim pertinho
Porque não abro mão do meu jeito duro e mole demais
Minha bipolaridade emocional
E minha inteligencia diferente que não cruza numeros e palavras
Porque é complicado demais a lógica de que você tanto fala

E a gente é tão diferente que te odeio mais e mais
E é esse ódiozinho pequeno dentro de mim
que me dá o freio, o frio e o medo de aceitar que você é o cara
Porque não sou boa demais pra confiar em rapazes como você

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Algo aconteceu

As fronteiras do meu lar já não são seguras
Não encontro o limite do sim, nem do não
O seio materno está ferido
E a culpa não é de meu irmão

Rejeição não é agouro que ofereço gratuitamente
Mas a ela não há valor algum

Plano baixo pra silenciar
Tento me calar
Mas voz alguma jamais saiu
Parece que algo explodiu

Eu não queria magoar

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Faz

Faz amanhecer
Dia claro
Faz ir-se longe o breu da noite que passou
Trás o alvorecer

Faz amanhecer
O dia que virá
O sono há de passar
A memória longe ficará

Faz amanhecer
Trás a melodia daquele sorriso
Daquele rosto bonito
Que a terra tratou de fazer nascer

Faz amanhecer
O sentido da vida.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

1ª Pessoa

Me sinto triste
Me sinto a beira de um sono

A particularidade da 1ª pessoa me incomoda
A particularidade me causa coisas que não sei

Eu não sei ser sozinha
Também não sei ser plural

Eu não sei nem o que é amizade
Tampouco o que o amor
Sei que a vida vive o tempo
e tempo também não sou

Palavras fluem em minha cabeça
E o tempo transita sem que eu veja

É o desespero da solidão

Amorteci uma cápsula de baixo da língua
E ela tampouco me quis

Eu agi agindo por agir
A curiosidade me contradiz
E a responsabilidade me diz
   que é melhor não

Mas eu não sei

Vivi de poesias todos esses dias
Eu me fechei no que não diz

Repito palavras
   porque não as conheço
Rabisco para desabafar meu desapego

Eu não sei quem eu sou
Não sei onde vivo
Não conheço as pessoas
   e isso me perturba

Vomito e vomito
Mas nada sai de mim
Pouco há aqui

Dias repetidos de pessoas repetidas
Procuro a saída
Mas ela se escondeu

Me entristeço sob a fumaça
E sorrio sobre ela

As pessoas não me escutam
Porque sobreviver é dificil
    e isso eu sei.

Mas queria que me entendessem
Porque isso eu muito faço
Muito escuto
   sem parar

E eu continuo aqui
Sem nada tracejar

Não sei qual o meu tempo
Nem o que há de errado em mim
Queria saber
Porque cansei de viver assim